Música Clássica
Berlioz - Sinfonia Fantástica op. 14
Pensamos que melhor do que ninguém Berlioz nos pode falar da sua Sinfonia Fantástica. Desta forma muito do que vamos dizer dos vários andamentos resulta da folha de programa escrita pelo próprio Berlioz para a estreia da obra a tradução do francês é minha. Na verdade esta folha de programa sofreu várias alterações entre a data da sua composição 1830 e a data da ultima revisão (1850). Neste texto utilizaremos como base a versão de 1832.
O texto de Berlioz está nesta cor.Antes de mais convém contextualizar um pouco esta obra. Como já referimos trata-se de uma obra que é mais do que autobiográfica. É uma obra que serviu um propósito especifico na vida de Berlioz: A conquista da atenção (e do amor) da sua bem-amada.
Conta na verdade a história que Berlioz teria visto a actriz Irlandesa Harriet Smithson representar Hamlet no papel de Ofélia no dia 11 de Setembro de 1827. Berlioz ficou imediatamente apaixonado (tudo muito romântico e adequado ao espírito excessivo da época)tendo enviado inúmeras cartas sempre sem qualquer tipo de resposta. A actriz deixa Paris sem que Berlioz a possa sequer conhecer. Berlioz decide então em apenas dois meses escrever a Sinfonia Fantástica como a forma de exprimir o seu amor. Abençoada actriz diria eu ...
Bom o facto é que o objecto de tal paixão não assistiu à estreia (5 de Dezembro de 1830) tendo por fim ouvido a sinfonia em 1832 já com a adição do drama "Lelo" de que falaremos mais tarde. Finalmente aceitou encontrar-se com Berlioz e os dois casaram a 3 de Outubro de 1833. Quanto à felicidade do casamento as opiniões dividem-se. Divorciaram-se nove anos depois.
A obra tem como título original "Episódios da vida de um artista - Sinfonia em cinco partes" e segundo a página de programa escrita por Berlioz:
"O compositor teve por objectivo descrever naquilo que elas possuem de musical as diferentes situações da vida de um artista. O plano do drama instrumental, privado que está da utilização da palavra deve ser exposto previamente. O programa que se segue deve assim ser considerado como o texto de uma ópera, servindo de transporte aos fragmentos de música dos quais é a razão do carácter e da expressão"Berlioz explica também que a obra pode ser tocada sem a distribuição do programa embora a expressão que utiliza "à la rigueur" me leve a pensar que ele preferiria que não fosse assim. Dizia então:
"Este programa deve ser distribuído sempre que a Sinfonia Fantástica for dramatizada e por consequência seguida do monodrama Lélio que termina e completa o Episódio da Vida de um Artista. Neste caso a orquestra invisível deve ser colocada no palco por trás da cortina""Se a Sinfonia for executada isoladamente num concerto esta disposição não é necessária: Pode-se inclusivamente em ultimo caso prescindir da distribuição do programa limitando-se apenas a descrição ao nome dos andamentos; a sinfonia (pelo menos o autor assim o espera) podendo oferecer por si própria interesse musical independente de toda a intenção dramática"
Poderíamos debater - e será sem dúvida interessante - até que ponto uma composição "programática" tem valor como uma composição abstracta ou melhor até que ponto o facto de existir uma intenção descritiva especifica lhe fornece mais valor. Porém não o faremos já, afinal de contas voltamos de férias ainda ontem e temos de recuperar os neurónios antes de semelhante batalha conceptual.
Continuando pois com a descrição de Berlioz chegamos ao primeiro andamento.
Primeira Parte : Sonhos-Paixões"O autor parte do contexto que um jovem músico sofre da doença mental que um escritor célebre chamou a "vaga das paixões", vê pela primeira vez uma mulher que reúne todas as características do ser ideal que a sua imaginação havia formado e dela fica perdidamente apaixonado. Devido a uma originalidade inexplicável a imagem querida apenas se apresenta ao artista sobre forma musical na qual ele encontra um certo carácter apaixonado mas nobre e tímido tal como o sentimento que nutre pela sua bem-amada""Este reflexo melódico com o seu modelo perseguem-no sem interrupção como uma dupla ideia fixa. Tal é a razão do aparecimento em todos as peças da sinfonia da melodia que começa o primeiro Allegro""A passagem desse estado de sonho melancólico,interrompido por acessos de alegria sem razão, a momentos de paixão delirante, com movimentos de fúria, ciúme e respectivos regressos à ternura, lágrimas, etc ... é o tema da primeira parte."
Oiçam aqui o primeiro andamento desta sinfonia agora embebidos deste enquadramento. Pareceu-vos diferente a música do que sem o mesmo (ver este outro post) ?
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