Ludwig van Beethoven (1770-1827) Sinfonia No. 6 em fá maior, Op. 68 - Pastoral e Sinfonia No. 4 em Si bemol maior, Op. 60
Música Clássica

Ludwig van Beethoven (1770-1827) Sinfonia No. 6 em fá maior, Op. 68 - Pastoral e Sinfonia No. 4 em Si bemol maior, Op. 60


Apesar de me encontrar com certa pressa, não deixarei de "depositar" algumas palavras sobre a Sinfonia Pastoral de Beethoven. Durante muito tempo, até porque era um dos poucos Cds que possuía de música genuinamente clássica, eu ouvi a obra com muita instância. Adquiri o disco num sebo aqui em Brasília. Entrei no mundo de Beethoven por intermédio da Sexta Sinfonia, uma das peças que mais gosto do compositor. A Sexta Sinfonia é uma obra de cenas do campo. Ela está repleta por um espiríto contemplativo. Somente quem gosta de paisagens naturais; do cheiro do campo; do marulho de regatos; das emanações das flores silvestres, pode compreender o que Beethoven quis retratar nesta sinfonia. O homem das cidades precisa ir até o campo para sentir essa sinfonia. Ela tem o cheiro e a fragrância de prados e planícies. Em suma: somente quem nasceu e morou no campo pode captar as devidas emanações desta peça. Já ouvir muitas opiniões sobre ela: Uns abominam, afirmando que ela é enfadonha e aborrecente; outros, desenvolvem um olhar meramente de curiosidade. No meu caso, eu desenvolvir um relação de profunda existencialidade. Recordo-me que quando a descobrir, isso lá nos idos de 2003, eu estava lendo Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Aquilo provocou em mim um tipo de evocação necessária da tristeza. Mas era um tipo de tristeza que me conduzia à alegria. Num tipo de experiência que Rubem Alves retrata em uma de suas crônicas. Diz ele que sofria de beleza, um tipo de doença necessária. Diz ele: "A beleza me produz uma tristeza mansa. Não julgo que ela deva ser curada. Se eu a curasse, se eu ficasse alegrinho, eu deixaria de ser o que sou. Minha tristeza é tanto parte de mim quanto a cor dos meus olhos, as batidas do meu coração, as minhas mãos. Sem a minha tristeza eu ficaria aleijado - acho que até pararia de escrever. Porque a minha escritura é um contraponto musical à minha triteza". E Rubem cita Alberto Caeiro, e o seu Guardador de Rebanhos (uma evocação pastoral):

Mas eu fico triste como um pôr-do-sol
quando esfria no fundo da planície

e se sente a noite entrada

como uma borboleta pela janela.

Mas minha tristeza é sossego

porque é natural e justa
e é o que deve estar na alma...

É preciso ser de vez em quando infeliz

para se poder ser natural

Rubem escreve estas palavras no livro Concertos para o corpo e a alma (Editora Papirus), uma obra que possui uma estrutura didática como se fosse um concerto musical. As várias partes possuem nomes de formas musicais (Andante grazioso, languido, espressivo, delicato e etc). Assim, na época em que descobri a peça, aquilo foi uma revelação. Ao ler as páginas do Werther de Goethe e as descrições que eram feitas pela mão habilidosa do escritor alemão, apalpei cada uma das descrições. Uma das passagens do livro de Goethe me embalava e me levava a compreender os sentimentos que eram necessários para fruir a música, diz assim:

"Meu caro Wilhelm, arquitetei toda sorte de reflexões a respeita do desejo que o homem sente ao dilatar o seu horizonte, fazendo novas descobertas, errando a aventura, e, além disso, a respeito do sentimento que o leva a acomodar-se numa existência limitada, e a caminhar com os antolhos do hábito, sem preocupar-se com o que se acha à direita ou à esquerda. Quando aqui cheguei, e do alto da colina pus-me a contemplar esse lindo vale, senti-me atraído de modo estranho por todo esse vasto horizonte. ?Ah! se eu pudesse mergulhar nas sombras daquele pequeno bosque, lá longe!... Ah! se eu pudesse galgar o pico daquela montanha distante e de lá abarcar a região inteira! Não poder errar por aquelas colinas que se ligam umas às outras, e pelos vales cheios de sombra pensativa!? (...) A distância, naquelas paragens, parece-se com o futuro. Um todo imenso, e como que envolvido por uma neblina, estende-se diante da nossa alma; nosso coração aí mergulha e se perde, da mesma forma que os nossos olhos e ardentemente aspiramos a nos abandonarmos por completo, deixando-nos impregnar de um sentimento único, sublime, delicioso... Mas, ai de nós, quando lá chegamos, vemos que nada mudou: encontramo-nos tão pobres, tão mesquinhos como antes, e nossa alma sequiosa pela água refrescante que lhe fugiu?
(grifo meu).

A Pastoral é uma obra programática. O seu programa é a vida, o passeio, a relação com o campo, com a natureza.
Deve ser assim interpretada:

1. Allegro ma non troppo (em forma-sonata) - "Despertar de sentimentos alegres diante da chegada ao campo"
2. Andante molto mosso - "Cena à beira de um regato"
3. Allegro - "Dança campestre" 4. Allegro - "A tempestade"
5. Allegretto - Hino de ação de graças dos pastores, após a tempestade

Acredito, como afirma Arthur da Távola em um dos seus livros (Maurice Ravel - Um Feiticeiro sem Deus. Editora Nova Fronteira), que é necessário "fugir do tecnicismo invasor [a serviço da interpretação] e voltar aos tempos em que a literatura atuava como intérprete adequada do fato musical". Espero não ter cansado os possíveis e eventuais leitores dessa exposição livremente pessoal. Que a música fale e apresente os seus motivos artísticos! Aparece ainda a Sinfonia no. 4 neste registro imperdível com Toscanini. Boa apreciação!

Ludwig van Beethoven (1770-1827) Sinfonia No. 6 em fá maior, Op. 68 - Pastoral e Sinfonia No. 4 em Si bemol maior, Op. 60

Sinfonia No. 6 em Fá maior, Op. 68 - Pastoral

01. Allefro ma no troppo
02. Andante molto nosso
03. Allegro
04. Allegro
05. Allegretto

Sinfonia No. 4 em Si bemol maior, Op. 60

06. Adagio, Allegro vivace
07. Adagio
08. Menuetto-Allegro vivace
09. Allegro ma non troppo

NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini, regente

BAIXAR AQUI

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Have Joy!

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