Continuando na nossa revisão das 100 obras que recomendo para quem nunca ouviu música "clássica" e gostaria de o fazer hoje vou falar-vos do 1º Concerto para Violino e Orquestra de Paganinni.
Este concerto foi o primeiro de cinco concertos para Violino escritos por Paganinni embora as más línguas digam que poderia perfeitamente ter-se abstido de continuar porque segundo essas pessoas nada de novo aconteceu nos restantes concertos.
Composto em 1817 e 1818 este concerto (Op. 6) segue a forma clássica do concerto definida pelos compositores do período Barroco: Três andamentos na forma Rápido-Lento-Rápido. Nada de inovador nesta forma portanto. Já a questão sobre a tonalidade deste concerto merece a nossa atenção. Na verdade no manuscrito original Paganinni escreveu a peça em Mi Bemol Maior no entanto a parte de solista estando escrita em Ré Maior. Esta prática implicava que o violino solo fosse afinado de forma diferente da Orquestra (meio tom acima). Esta prática tinha uma razão de ser que vou tentar explicar. A ideia era que o solista soasse mais limpo e mais potente que a orquestra em certas partes o que se conseguia dado que em qualquer instrumento de cordas uma corda solta soa sempre mais forte e mais clara que uma pisada. A afinação diferente da Orquestra e do instrumento do solista permitia-lhe brilhar utilizando uma corda solta enquanto a Orquestra era "obrigada" a tocar cordas pisadas. Esta prática é hoje em dia obsoleta. O concerto foi estreado em Nápoles a 31 de Março de 1819.
O primeiro andamento (Allegro Maestoso) começa com uma introdução orquestral a que se segue um verdadeiro show case técnico do solista. Para este primeiro andamento escolhi uma jovem solista (na altura mesmo muito jovem), Sarah Chang para vos demonstrar entre outras coisas a enorme progressão técnica que se verificou no instrumentistas. Hoje literalmente milhares de violinistas são capazes de interpretar este concerto enquanto no tempo do compositor isto era considerado pouco menos que absolutamente intocável.
O segundo andamento (Adagio) tem uma natureza totalmente diferente. Neste andamento revela-se de forma absoluta a capacidade de Paganinni para escrever melodias. Na verdade Rossini seu amigo dizia que se um dia ele começasse a escrever óperas a sua carreira estaria em perigo. Este andamento de certa forma pode ser visto como um verdadeiro cântico instrumental, um autêntico e pungente lamento de pouco mais de 5 minutos. Escolhemos para ilustrar este andamento uma gravação histórica de 1934 com Yehudi Menuhin e a Orquestra de Paris dirigida por Pierre Monteux.
No Terceiro Andamento (Rondo. Allegro spirituoso ? Un poco più presto) voltamos ao fogo de artificio técnico embora (e este é um grande embora) não deixemos de ter a introdução de mais uma belíssima melodia. Note-se a este respeito que hoje muitas vezes nos esquecemos da capacidade de Paganinni enquanto compositor obcecados que estamos no seu virtuosismo e na concepção moderna da especialização. Mantemos a escolha da gravação anterior.
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