Quem lê este blog com mais regularidade pode-se lembrar que este foi o "meu" segundo disco de música. Com a aquisição da edição de Fevereiro da Diapason esta tem sido a obra que tenho ouvido nos trajectos casa-trabalho e vice versa nestas ultimas semanas. Como a obra esta na minha lista das 100 preferidas pensei em abandonar um pouco a ordem sequencial e completar já esta entrada.
Esta obra é um poema sinfónico em Quatro Andamentos composto por Rimsky-Korsakov em 1888. Embora Inspirado nos contos das 1001 noites e sendo efectivamente um poema sinfónico não deixa de ser verdade que o compositor tentou muito escapar o mais possível a uma obra de cariz demasiado programático. Dessa vontade é sintoma o seu desejo inicial de apelidar os 4 andamentos como: Prelúdio, Ballade, Adágio, Finalle. Não procurem assim na música imitações da natureza concentrem-se antes na riqueza e subtileza das emoções que a música transporta e que nos leva para outros mundos - literalmente.
Antes de vos apresentar os quatro andamentos com os nomes que Rimsky Korsakov acabou por aceitar dar como nota de rodapé gostava de vos dizer que se para muitos esta obra é um dos expoentes máximos na arte da orquestração (merecido sem dúvida) para mim - que a ouvi literalmente centenas de vezes (naquele tempo a adolescência sem net tinha que se entreter de formas menos "meritórias") - continua a ser para além disso uma das peças que realmente me transporta para uma outra realidade, oriental, como teria gostado Rimsky-Korsakov.
Uma das poucas concessões de Rimsky-Korsakov à exist~encia de um programa terá sido precisamente a introdução que escreveu para a noite de estreia:
"O Sultão Schahriar persuadido da falsidade e falta de lealdade das mulheres jurou executar cada uma das suas mulheres após a noite de núpcias mas Scheherazade salvou a sua vida interessando nos contos que narrou durante 1001 noites. Atraído pela curiosidade o Sultão adiou a execução da sua mulher dia após dia até desisitir completamente do seu plano sangrento"
O Mar e o Navio de Sinbad (Largo e Maestoso - Allegro non troppo): Não querendo fazer precisamente o inverso do pretendido por Korsakov devemos no entanto referir que neste movimento são expostos os dois temas sendo que representa as personagens principais da história: Schahriar , o todo poderoso sultão (logo no inicio) e o sedutor e insinuante tema de Schehérazade (por volta do segundo 50"). Aliás pese embora a objecção de Rimsky-Korsakov a uma interpretação demasiado programática até o compositor admitia que a sensualidade dos solos de violino presentes em cada andamento efectivamente representavam Schehérezade.
O Conto do Principe Kalendar (Lento - Andante) : Um andamento essencialmente numa forma ternária que começa com uma variação sedutora de Scheherezade para depois ouvirmos também uma variação do tema do Sultão (antes passando por uma melodia que pode ser interpretada como a melodia do Príncipe Kalendar) para por fim chegarmos através de uma marcha a um frenético crescendo final.
O Jovem Principe e a Princesa (Andantino quasi Allegretto) : Este andamento é na verdade o relato de uma grande história de amor. Melodias sensuais entrelaçam-se ...
O Festival em Baghdad - O Mar - Naufrágio numa Rocha - Conclusão (Allegro Molto): Um sultão prestes a perder a paciência inicia este andamento mas rapidamente é de novo envolvido nos contos de Scheherazade.
- Nikolai Rimsky-korsakov (1844-1908) Scheherazade, Op. 35 E Capricho Espanhol, Op. 34
Rimsky-Korsakov foi um extraordinário orquestrador. Poucos compositores souberam criar obras de maneira tão elegante quanto ele. Ele explora um determinado efeito em suas obars orquestrais que nos passa a impressão de que um massa sonora vem de encontro...